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Showing posts from March, 2021

Memória: quando é que os esquecimentos deixam de ser normais e passam a ser uma preocupação? E quando é que deixam de ser uma preocupação e passam a ser um sintoma de doença?

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    De uma forma geral, e ressalvando que as características de cada situação podem dar enquadramentos diferentes aos casos, pode-se dizer que, quando a ocorrência dos esquecimentos ultrapassa a proporção em que é expectável acontecerem, face à idade, sem que exista impacto na funcionalidade da pessoa, então existe alteração e, neste momento, os esquecimentos passam a ser (ou devem passar a ser) um motivo de preocupação. Por sua vez, quando a ocorrência dos esquecimentos ultrapassa a proporção em que é expectável acontecerem, face à idade, e existe impacto na funcionalidade da pessoa, então existe alteração e, neste momento, os esquecimentos deixam de ser motivo “apenas” de preocupação e passam a ser um sintoma de doença. Naturalmente que o perfil das alterações, numa e noutra situação, serão diferentes.   Posto isto, é possível que existam pessoas que questionem: considerando que podem existir alterações sem que exista impacto na funcionalidade da pessoa - o que ...

Memória: os esquecimentos refletem sempre alterações de memória?

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  É verdade que durante largas décadas, por via dos estudos realizados com vista ao entendimento da memória, o esquecimento foi encarado como uma falha de memória. E ainda hoje, em muitos lugares, inclusive em contexto académico, assim é apresentado. No entanto, hoje, sabemos que a capacidade de esquecer informação é tão importante para o funcionamento da memória (e do cérebro) como a capacidade de adquirir e de consolidar informação.   Desta forma, o esquecimento, enquanto tal, não é produto de um erro que acontece nem de um problema que existe ou que esteja a existir, ele é parte integrante da dinâmica de funcionamento do processo mnésico e de fatores que envolvem o processo cognitivo, que agem de forma influente sobre o processo mnésico.      Naturalmente que existem processos e mecanismos que explicam e sustentam o esquecimento como parte de um “todo mnésico”, sendo exemplo disso, a possibilidade de o cérebro usar um processo como a potenciação d...

Qual o impacto que o isolamento social pode ter no funcionamento cognitivo?

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A estimulação que os contactos e as interações sociais proporcionam ao nosso cérebro é ampla, elaborada e única; sendo a sua importância reconhecida e valorizada pelo seu papel neuroprotetor. Perante isto, e face às circunstâncias e exigências de confinamento que a pandemia covid-19 nos tem colocado, faz sentido questionar, qual o impacto que o isolamento social, a solidão e o empobrecimento do contacto social têm na atividade cognitiva complexa.   Dos trabalhos que já vinham sendo feitos, no período pré-covid 19, os resultados apresentados sugerem uma associação entre o isolamento social ou os baixos contactos sociais com pior função cognitiva (Shankar et. al, 2013) e com o declínio cognitivo (Read et. al, 2020).   Num estudo de 2019, a solidão foi associada a baixos valores de desempenho cognitivo global, memória imediata e memória diferida, fluência verbal e digit span por ordem inversa (medida de memória de trabalho e atenção executiva); por sua vez, o isolamento soc...